domingo, 4 de setembro de 2011

Rebeldes líbios identificam paradeiro de Gaddafi, diz TV


Forças do CNT (Conselho Nacional de Transição) da Líbia identificaram o paradeiro do ditador Muammar Gaddafi, informou um correspondente da TV Al Jazeera neste domingo.
O repórter citou o chefe do conselho militar em Trípoli, Abdul Hakim Belhadj, mas a Al Jazeera não identificou a localização.
As forças rebeldes líbias se preparam para entrar nas próximas horas na cidade de Bani Walid, uma das três ainda consideradas redutos do antigo regime, em que leais a Gaddafi ainda resistem. O ditador poderia estar escondido neste em um desses redutos, com seu filho Saif al Islam.
Os rebeldes deram prazo até as 10h da manhã (horário local, 5h de Brasília) para que a bandeira rebelde seja içada na cidade. Caso contrário, entrarão à força.
Segundo disse à agência Efe o comandante Alis Mohammed, das forças especiais de Trípoli, não foram registrados combates nas últimas 24 horas, embora tenha havido alguns confrontos armados em algumas áreas da cidade.
Cartaz de Gaddafi "procurado vivo ou morto" foi publicado em jornal em Trípoli na sexta-feira (1)O comandante Alis disse que não sabia quantos seguidores do ditador poderiam haver na cidade, embora se estime que seriam várias dezenas de mercenários contratados por Gaddafi em outros países.
Segundo informações da agência Efe, às portas da cidade o clima é de calma, com os milicianos montados nos carros militares e com as armas preparadas à espera de receber uma ordem.
FILHO
Saif al Islam, filho de Gaddafi, tem viajado pelos arredores de Trípoli, reunindo-se com líderes tribais e preparando uma retomada da capital líbia, disse seu porta-voz nesta sexta-feira.
Numa conversa telefônica com a Reuters, dizendo falar de "um subúrbio ao sul de Trípoli", Moussa Ibrahim disse que o CNT não terá condições de governar o país depois de ter expulsado Gaddafi da capital, na semana passada, e sugeriu que os governos ocidentais deveriam negociar com o líder deposto.
Ele também apontou "a ironia" no fato de a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ter se aliado a um combatente islâmico que já teve contatos com a Al Qaeda, e que agora estaria no comando militar de Trípoli.
Num tom tranquilo, o porta-voz não quis dizer com precisão onde estava, mas foi um número da Líbia que apareceu no identificador de chamadas do repórter.
"Eu me desloco bastante e não tenho conexão à Internet no momento", disse ele. "Na verdade", prosseguiu, "ainda ontem (quinta-feira) estive com o senhor Saif al Islam num trajeto circundando Trípoli pelo sul."
Saif, que estudou em Londres e foi considerado durante anos o herdeiro mais provável de Gaddafi, se reuniu com líderes tribais e outros apoiadores, segundo o porta-voz.
"Ainda estamos muito fortes", afirmou ele, sem dizer tampouco qual era o paradeiro de Gaddafi, foragido desde que as forças rebeldes entraram em Trípoli e na prática acabaram com o seus 42 anos de regime.

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/970184-rebeldes-libios-identificam-paradeiro-de-gaddafi-diz-tv.shtml

Amanda Castro, Andressa Birkett, Jéssica Alves, Luciana Ferreira, Renan Joly, Ronaldo Aguiar e Vinicius Cunha

EUA repetem erros da época da Grande Depressão ao combater crise econômica

Nesta semana, o Federal Reserve Bank (Fed, o banco central americano) de Nova York publicou uma postagem de blog sobre o “erro de 1937”, o recuo fiscal e monetário prematuro que abortou uma recuperação econômica em andamento e prolongou a Grande Depressão. Como aponta Gauti Eggertsson, o autor da postagem (com quem já fiz pesquisa), as condições econômicas atuais –com crescimento do produto, aumento de alguns preços, mas desemprego ainda muito alto– apresentam forte semelhança com as de 1936-1937. Será que os autores de políticas modernos cometerão o mesmo erro?
Eggertsson diz que não, que agora os economistas sabem mais. Mas eu discordo. Na verdade, de muitas formas importantes nós já repetimos o erro de 1937. Chame de o erro de 2010: um “desvio” da atenção dos empregos para outras preocupações, um erro que tem sido acentuado pelos recentes dados econômicos.
Com certeza as coisas poderiam ser piores –e há uma forte chance de que, de fato, piorarão.

Quando o pacote de estímulo econômico original de 2009 foi aprovado, alguns de nós alertaram que ele era tanto pequeno demais quanto muito breve. Em particular, os efeitos do estímulo começariam a desaparecer em 2010 –e dado que crises financeiras costumam ser seguidas por desacelerações prolongadas, era improvável que a economia já apresentaria uma recuperação vigorosa autossustentada àquela altura.
No início de 2010, já estava óbvio que essas preocupações eram justificadas. Mas de alguma forma surgiu um enorme consenso entre os autores de políticas e especialistas de que nada mais seria feito para criar empregos, e que, em vez disso, era preciso uma mudança de direção visando a austeridade fiscal.
Esse consenso foi alimentado por histórias para criar medo envolvendo uma iminente perda de confiança do mercado na dívida americana. Cada pequeno aumento nas taxas de juros era interpretado como sinal de que os “vigilantes dos títulos” estavam prestes a atacar, e essa interpretação era frequentemente noticiada como fato, não como sendo uma hipótese dúbia.

Por exemplo, em março de 2010, o “The Wall Street Journal” publicou um artigo intitulado “Temor da Dívida Eleva Juros”, noticiando que as taxas de juros americanas de longo prazo tinham aumentado e afirmando –sem apresentar evidência– de que esse aumento, para aproximadamente 3,9%, refletia as preocupações com o déficit orçamentário. Na verdade, ele provavelmente refletia vários meses de números decentes do emprego, que aumentaram temporariamente o otimismo em relação à recuperação.

Mas não importa. De alguma forma, se transformou em pensamento comum que o déficit, e não o desemprego, era o “Inimigo Público Nº 1” –um pensamento comum tanto refletido quanto reforçado pela mudança dramática no enfoque da cobertura da imprensa, da preocupação com o desemprego para a preocupação com o déficit orçamentário. A criação de empregos na prática saiu da agenda.
E aqui estamos, no meio de 2011. E como vão as coisas?
Bem, os vigilantes dos títulos continuam existindo apenas na imaginação dos falcões do déficit. As taxas de juros de longo prazo têm flutuado com o otimismo ou pessimismo em relação à economia; uma onda recente de más notícias fez com que caíssem em torno de 3%, não distante dos pontos mais baixos históricos.
E as notícias, de fato, foram ruins. À medida que diminui o efeito do estímulo, também cai a esperança de uma forte recuperação econômica. Sim, ocorreu alguma criação de empregos –mas em um ritmo que não consegue acompanhar o crescimento da população. O percentual de americanos adultos com emprego, que caiu entre 2007 e 2009, mal se alterou desde então. E os números mais recentes sugerem que mesmo este crescimento modesto e inadequado do emprego está engasgando.

Assim, como eu disse, nós já repetimos uma versão do erro de 1937, retirando o apoio fiscal cedo demais e perpetuando o desemprego elevado.
Mas coisas piores poderão acontecer em breve.
No lado fiscal, os republicanos estão exigindo cortes de gastos imediatos como preço para a elevação do teto para endividamento e para evitar um calote americano. Se esta chantagem tiver sucesso, ela colocará um obstáculo adicional em uma economia já fraca.
Enquanto isso, um coro barulhento está exigindo que o Fed e seus pares no exterior elevem as taxas de juros para evitar uma suposta ameaça inflacionária. Como o artigo do Fed de Nova York aponta, o aumento da inflação nos preços ao consumidor nos últimos meses –que já está demonstrando sinais de enfraquecimento– refletia fatores temporários e a inflação subjacente permanece baixa. E economistas inteligentes como Eggertsson entendem isso. Mas o Banco Central Europeu já está elevando as taxas de juros e o Fed está sob pressão para fazer o mesmo. Tentativas adicionais para ajudar a economia a expandir parecem fora de questão.
Então, o erro de 2010 ainda pode ser seguido por um erro ainda maior. Mesmo se isso não acontecer, o fato é que a política de resposta à crise foi e continua sendo altamente inadequada.
Aqueles que se recusam a aprender com a história estão condenados a repeti-la; nós estávamos e estamos. O que estamos experimentando pode não ser uma repetição plena da Grande Depressão, mas isso não serve de consolo para milhões de famílias americanas que estão sofrendo com uma crise econômica sem fim à vista.
Tradução: George El Khouri Andolfato


 Amanda Castro, Andressa Birkett, Jéssica Alves, Luciana Ferreira, Renan Joly, Ronaldo Aguiar e Vinicius Cunha